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domingo, 22 de agosto de 2021

PIG


PIG
DIREÇÃO: Michael Sarnoski
ELENCO: Nicolas Cage, Alex Wolff, Adam Arkin e Nina Belforte


Um homem vive de maneira amíngua numa floresta selvagem na região do Oregon, nos Estados Unidos. Ele é caçador de trufas e vive na companhia de uma porca. O animal é sequestrado e, assim, ele se dirige a Portland no afã de recuperar o seu pet, porém situações perturbadoras do seu passado não passarão incólumes nessa jornada.


Já dizia o ditado: "Diga-me com quem andas e eu te direi quem tu és". Diante disso, precisamos falar sobre Nicolas Cage. Um dos atores mais famosos do mundo, ele é neto do famoso músico Carmine Coppola, sobrinho do lendário cineasta Francis Ford Coppola (de O Poderoso Chefão e Apocalipse Now) e da grande atriz Talia Shire, primo da diretora Sofia Coppola, do roteirista Roman Coppola e do ator Jason Schwartzman, foi casado com a talentosa atriz Patricia Arquette e com ninguém menos que Lisa Marie Presley, assim como teve uma poderosa parceria nas telonas com Sean Penn. Sendo assim, ele não tinha como dar errado. De fato, ganhou um merecido Oscar de Melhor Ator, em 1996, por Despedida em Las Vegas, mas parece que esta glória foi algo puramente pontual em sua carreira. 

Nos últimos 25 anos, o que pôde visto foi um Nicolas Cage controverso, com uma vida extravagante, com direito a falência, prisões, negacionismo e violência psicológica. Sua carreira desde então, talvez salvo somente a comédia Adaptação, de 2002, beirou a mediocridade, com um combo de obras péssimas, que tinham em seu ápice negativo uma atuação trágica por parte do mesmo, e neste ponto citam-se O Sacrifício, Motoqueiro Fantasma, Fúria sobre Rodas, Caça às Bruxas, Reféns, O Pacto, O Apocalipse e Snowden - Herói ou Traidor. Sendo assim, o que ele ainda quer de sua carreira? Anunciar um filme, em que ele também é o produtor, sobre a caça a uma porca sequestrada poderia ser a cereja estragada do bolo, mas feliz daquele que prestigia um filme, mesmo quando a premissa não é lá essas coisas. Pig é um aglomerado de qualidades que gostamos de ver na sétima arte.

O filme é dirigido pelo desconhecido Michael Sarnoski, que possui uma carreira mais centrada na edição e no roteiro, e onde suas obras (dentre curtas-metragens, documentários e séries) não possuem atores de renome no elenco. Pig foi escrito por ele, em parceria com a jovem Vanessa Block, que é uma estreante na função. Esbanjando racionalidade na concepção da trama, eles são cientes que, por mais que o longa busque ser ousado dentro de seu suposto objetivo, não se pode fugir de certas coerências, como a reclusão, que resulta em comportamentos nada sociáveis por parte de um homem; e por mais que ele possa ter posturas reprováveis, mais deplorável ainda é não buscar conhecê-lo e entendê-lo a fundo. Logo, uma amizade improvável entre um ser humano e uma porca não deve, a princípio, ser vítima de piadas ou até mesmo de uma demonização.

Contornando qualquer possibilidade de se tornar bizarro, Pig faz com que sua história não acabe se deixando levar pelo trash, ou seja, situações que o público julga como algo que ocorre só em filme. Virtuoso, o longa passeia pelo triste e numeroso caso do sábio desvalorizado, que é aquele cidadão, que achamos que não tem utilidade alguma no mundo, mas às vezes consegue ser o dono da solução tão esperada para diversas situações. Assim, o Rob de Nicolas Cage transforma-se num ser humano admirável, diferente do Charlie Frost de Woody Harrelson, em 2012, que, com as mesmas características, foi tão ridiculamente trabalhado, que tão logo foi esquecido na obra.

Fazendo o público sentir-se bem com a pureza da resposta das crianças, Pig busca dignidade na diversidade humana, inclusive a psicológica. Posando como uma metáfora em meio a um período pandêmico, o filme sabe que não somos os mesmos e que todos pioramos, cada um do seu jeito. Por isso, a obra não permite que homens e mulheres, cada um com sua desgastada essência, seja desvalorizado ou até mesmo descartado num mundo cada vez mais complicado. Assim, até a caçada a uma porca torna-se algo precioso, onde o correto não é só tal fato caber a um homem, mas sim a uma sociedade inteira que, definitivamente, precisa melhorar.

Dotado de uma extrema e valorosa carga emotiva, Nicolas Cage é o que há de melhor nesse excelente filme. Ele nos convida a viver essa grande jornada, que, apesar de diversos pesares, encontramos nele uma figura perfeita e não cansativa para servir como companhia. Sua entrega ao personagem, faz com que todos comprem a sua causa e lhe deem as mãos; e a cada vitória dele, vibramos como se fosse uma nossa. É muito bom ver um ator medíocre entregar um espetacular trabalho, e ele e sua obra voltam a casar, porém no campo positivo. Sendo assim, que ninguém desista dos outros, seja na ficção ou na realidade. Tomara que esta atuação desperte o Nicolas Cage que tem dentro de muitos de nós.


domingo, 8 de agosto de 2021

JUNGLE CRUISE


JUNGLE CRUISE
DIREÇÃO: Jaume Collet-Serra
ELENCO: Emily Blunt, Dwayne Johnson, Jack Whitehall, Edgar Ramirez e Paul Giamatti


Em Porto Velho, no norte do Brasil, Frank trabalha como capitão de um barco turístico. Ele vem a ser contratado pela doutora em botânica Lily, que, junto ao seu irmão McGregor, desbrava a amazônia com o intuito de encontrar uma árvore que tem o poder de curar doenças graves, revolucionando assim a medicina. Porém, perigos verdadeiros e sobrenaturais irão ser um percalço nessa jornada.


O Brasil é um dos países que mais garante lucro para filmes em todo o mundo, mesmo que o nosso cinema ainda não tenha sido abraçado da maneira como merece pelo resto do planeta. Neste momento em que terras tupiniquins começam a flexibilizar o funcionamento dos cinemas, eis que a Disney, em meio as polêmicas em que está se metendo com sua plataforma de streaming, encontra em Jungle Cruise uma maneira de manter nas telonas, um faturamento de dar inveja em qualquer membro do showbusiness.

Falando no público brasileiro, eis que todos foram surpreendidos ao ver que a nossa nação é o palco deste filme aqui avaliado. A sétima arte está aí para provar que nem todo filme que se passa na Amazônia é, necessariamente, ambientado no Brasil. Dirigido pelo espanhol Jaume Collet-Serra, que fez o terror A Órfã e será o responsável pelo esperado Adão NegroJungle Cruise, com todo o direito à liberdade artística que o seu roteiro tem, multiplica as lendas e os mistérios amazônicos, embora em seu corpo de personagens principais, haja uma impressão no espectador de que já os viu em algum lugar, bem longe da América do Sul e que isso não faz muito tempo. Sendo assim, pegue Brendan Fraser, Rachel Weisz e John Hannah em A Múmia, e somem com Johnny Depp e Javier Bardem no último e horroroso filme da linha Piratas do Caribe e todos perceberão que este novo filme da Disney é o resultado desta "operação matemática".

Com o intuito de elevar o entretenimento ao seu mais alto nível, sem de fato ter o objetivo de tornar-se um "feel good movie" que simpatiza com a superação, Jungle Cruise estipula de maneira clichê o fator "caça" como carro-chefe de sua trama, que, situada em Rondônia, tem na fisionomia dos indígenas, algo mais de acordo com o país asiático que tem a segunda maior população do mundo. Logo, o povo nativo brasileiro sofre uma ocultação de características, embora a produção queira celebrá-lo. É fato que o seu trabalho de design de produção chega sim a ser quase condizente com o apresentado (aquilo estava mais para Manaus ou Belém), visto que a região norte do nosso país, mesmo muito distante dos principais polos econômicos, teve sim o seu desenvolvimento, devido ao ciclo da borracha, como pode ser constatado nos centros históricos de suas principais cidades. Porém, o trabalho pavoroso de efeitos visuais do filme, mancha suas virtudes, no tocante em que uma onça digital é capaz de causar no público tanta revolta, quanto causa medo nos personagens. 

Com direito a um submarino de guerra no Rio Madeira (sim, a maior bacia hidrográfica do mundo recebe este meio de transporte, mas não naquele período), pode-se enfatizar que o respeito à criação deve estar acima de tudo, porém a demonização da figura do adorável boto cor-de-rosa contribui para que exageros não coerentes com o que é a maior região do Brasil não passem despercebidos. Esclarece-se que qualquer tipo de produção pode se passar aqui. Quando Turistas, filme de 2006, escandalizou pela maneira como a nação fora retratada, lembro de ter questionado se brasileiros também defendiam outros países pela forma como foram retratados em filmes de terror. Só que agora, mesmo aceitando a liberdade de criação de Jungle Cruise, não posso deixar de considerar certas situações, no mínimo, bizarras.

Mas a verdade é que, no geral, este longa tem uma jornada totalmente desinteressante, com assombrações e antagonistas que simplesmente não tiveram desenvolvimento. Quando Jungle Cruise focaliza um deles, o outro automaticamente cai no esquecimento, e assim o filme caminha para um plot twist extremamente sem noção, onde os fatos narrados podem até justificá-lo, mas isso não significa que a obra seria enriquecida com tal fato. Não foi!

Numa pandora rosa, que faz uma ode a relevância brasileira no quesito plantas medicinais, Jungle Cruise, que conta com uma decepcionante atuação de Emily Blunt, que eu considero ser a mais subestimada atriz do mundo, melhor se encaixa numa aventura que busca entreter os cinéfilos que não perdem uma Sessão da Tarde, mas seus produtores não estavam munidos da informação de que uma sessão de filmes tal qual esta, já perdeu relevância na televisão há muito tempo.