BEN-HUR
DIREÇÃO: Timur Bekmambetov
ELENCO: Jack Huston, Toby Kebbell, Morgan Freeman e Rodrigo Santoro
Ben-Hur (Jack Huston) é um
príncipe que foi acusado injustamente de traição pelo seu irmão adotivo Messala
(Toby Kebbell), que ocupa um alto posto no exército romano. Ao ser afastado de
sua família, ele não tem nenhuma escolha a não ser ceder a escravidão. Depois
de muito tempo, volta a sua terra com princípios vingativos, mas acaba por
rever muitos conceitos.
Não posso ser hipócrita em
trabalhar a análise deste filme, sem deixar de lado o repúdio que eu tenho por
remakes. Considero uma verdadeira afronta à obra original, seja ela qual for, que
acaba perdendo a sua identidade. Obviamente que algumas releituras chegam a ser
melhores (vide King Kong), mas mesmo assim o incômodo impera. Já pensou alguém se propor a fazer um novo O Poderoso Chefão ou ...E o Vento Levou? Refazer Ben–Hur
(filme recordista de Oscars, ao lado de Titanic e O Senhor dos Anéis – O Retorno
do Rei, com 11 de estatuetas no total) é um absurdo tal qual seria de outro
clássico. Tudo bem que o próprio filme estrelado por Charlton Heston seja uma
regravação, mas seu antecessor não teve importância. Dr Jivago e A Noviça
Rebelde têm remakes pífios, mas ninguém se importou nem antes, nem depois do
lançamento. O que me assusta neste novo Ben-Hur é o destaque gigantesco que vem
recebendo, que se sobrepõe a avaliação da qualidade da obra e nos distancia da
obra que marcou o cinema.
Evidente que não irei fazer
com que esse meu descontentamento interfira na crítica, afinal sou bastante
ético, porém a falta de qualidade do filme me veio aos olhos o tempo inteiro. É
necessário ter muito cuidado ao se trabalhar uma obra passada na Roma antiga,
principalmente devido ao grande número de filmes existentes com alusão ao
período histórico. Por que eu digo isso? Porque tem que ser cuidadoso o trabalho de
usar a parte técnica para propor um diferencial em um estilo que já está um
pouco manjado. Prova disso é a ousadia existente em películas sobre a
antiguidade oriental, que têm dado um banho na luxuosidade e na inovação de
figurinos, cenários, fotografia... Um exemplo é o deleite visual de
Memórias de uma Gueixa, que esbanja beleza, mesmo sendo um filme fraco. Já Ben-Hur
alia uma narrativa ruim a uma total falta de capacidade de se reinventar.
Sem querer pegar pesado
demais, mas a cenografia mais parece que fora pedida emprestada de alguma obra
barata, enquanto os figurinos denotam uma classe única para a sociedade, pois
além da falta de criatividade, os poderosos da época que esbravejavam superioridade,
estavam com vestimentas tão capengas e nada diferente da sociedade subalterna.
A fotografia de Oliver Wood (responsável pela linha Bourne) não consegue se
decidir sobre planos e brilho em um ambiente único, onde a resolução uma hora
parecia coerente ao período, mas em outro momento mais tinha a ver com um
período atual ou até mesmo futurístico. Os efeitos sonoros de uma única cena
oscilavam entre a força necessária para aquele momento e o inacreditável
silêncio total, desvalorizando todos os elementos que a situação da Roma Antiga
e as grandes batalhas que ali acontecidas pedem. E tudo isso ainda está aliado a um 3D terrivelmente desnecessário.
No que se refere a narrativa,
este novo Ben-Hur, dirigido por Timur Bekmambetov (o mesmo do ótimo O
Procurado) e escrito por John Ridley (vencedor do Oscar por 12 Anos de
Escravidão), encurta toda a sua história com o intuito de dar objetividade à
trama, mas como a ideia foi por água abaixo, o que se observa é um meloso andar
da carruagem, que incrivelmente torna-se pior, cena após cena, rebaixando toda
a força existente em Roma, seja nas guerras, no povo, no império, e não
consegue aproveitar nem a forte correlação bíblica que o filme poderia ter.
No que almejavam fazer do Ben-Hur
(fracamente vivido por Jack Huston) um mártir e exemplo de superação, o produto
entregue é de um prisioneiro qualquer e que em nada se diferenciava dos outros,
tirando todos os méritos dos supostos aspectos heroicos contidos no mesmo.
Logo, vê-lo dar a volta por cima não é um desejo que ganha o espectador, e
talvez fica a dúvida se no quesito força e determinação, qualquer outro
personagem poderia ser aproveitado para buscar-se coerência com os objetivos.
No antagonismo da obra, Toby
Kebbell não faz jus a essência do personagem e consegue a proeza de exibir
alguns dotes até mesmo benevolentes, fazendo de seu papel algo bem
insignificante, destoando negativamente de toda a severidade que fez com que os
vilões de filmes da Roma Antiga marcassem o cinema. Na parte amorosa dos dois personagens
principais, o filme ainda consegue a proeza de escalar como pares deles, duas
atrizes de fisionomia muito parecidas, que deixam quem está assistindo ao filme
numa confusão, no mínimo sinistra. Ah, e esqueçam que Morgan Freeman e Rodrigo
Santoro estiveram nele.
Com um resultado desastroso, a
aliança produção/direção/roteiro de Ben-Hur, que outrora queria reviver um
clássico, se preocupou tanto com a homenagem, que se esqueceu de olhar pela
qualidade da mesma e acabou brincando com sua exigente parte técnica, deixando tudo
a perder numa obra grandiosa, mas resumida numa competição indireta onde um
ponto ainda consegue ser pior que o outro, desmerecendo em muito a memória de
William Wyler e o poderio do personagem de Charlton Heston.
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