INFERNO
DIREÇÃO: Ron Howard
ELENCO: Tom Hanks, Felicity Jones e Ben Foster
Robert Langdon acorda num
quarto de hospital em Florença, sem memória do que aconteceu nos últimos dias.
Ele se acha novamente na mira de uma grande caçada. Mas com a ajuda da Dr.
Sienna Brooks e do seu conhecimento em simbologia, Langdon irá tentar reganhar
sua liberdade e memórias perdidas, enquanto resolve o enigma mais intrigante
que ele já presenciou.
O fenômeno Dan Brown volta a
ter uma de suas obras literárias retratada na sétima arte. Mesmo quase dez anos
após Anjos e Demônios, ele ainda exibe força o suficiente para levar
milhões para as salas de cinema. Tal situação ganha ares de antítese, visto que
os dois primeiros filmes não corresponderam às expectativas no campo
qualitativo, e até críticos literários não abraçam seus livros, elucidando que
o escritor apenas choca com a defesa de algumas teses, mas falha na estrutura
da trama. A verdade é que diante de tantos fatores negativos que ecoam há mais
de dez anos, surpresa seria se alguma reviravolta acontecesse. Enfim, não
aconteceu.
Inferno é um filme que tenta
se defender diante um dito “ritmo ágil”, que por sinal, não é suficiente para
ocultar suas falhas. A película prima por criminalizar ainda mais a figura do
Professor Robert Langdon, o que não deixa de ter lá seus exageros diante da postura inteligente, mas sonsa e desgastante, criada por Tom Hanks desde o primeiro filme. É lógico que diante dessa afirmativa, pode-se questionar que muitas pessoas são
perseguidas injustamente, mas a maneira com que os personagens lidam
com o sujeito, beira diversos níveis do exagero - e assim é sustentado o
roteiro, escrito por David Koepp, que dentre outras esquisitices, busca insistentemente infantilizar a figura da Sienna (vivida
por Felicity Jones), dando ares precoces para a bela, recata... digo digo,
bela, esperta e perspicaz personagem. Tudo bem que a atriz tem sim pouca idade,
mas para aquilo que o filme prega no início, antes da reviravolta no papel,
seria mais coerente que Emma Watson ou Dakota Fanning tivessem sido escaladas
para vivê-lo.
A verdade é que Inferno, mesmo
ainda usufruindo do ingrediente de tentar decifrar uma mensagem subliminar em
cima de uma obra de um artista historicamente renomado, não consegue sequer
construir uma trama interessante ou com elementos que despertasse a atenção. Prova disso é que o filme não explora graus de dificuldade nos temas abordados. É uma
sucessão de fatos que não chamam a atenção, somada com esforçadas cenas de
ação, mas que pecam no objetivo mal conduzido. Dois exemplos básicos: a calamidade que foi o fato do diretor Ron Howard, na cena do roubo no museu,
trabalhar um ato chocante, sendo que a alta e incólume comicidade existente naquele
momento, engoliu toda a seriedade com que os personagens lidavam com a
situação; e a eficaz antagonista da primeira cena, que foi drasticamente (e até
mesmo de maneira bizarra) descartada da obra, sendo que ela claramente era uma
peça que, se melhor explorada, daria um grande aprimoramento ao setor vilanesco
do filme. Sobre a mudança na personalidade da Sienna, fica a dúvida se o
público se sentiu surpreendido.
Enquanto Tom Hanks cisma em
ainda investir em uma personalidade fraca e desinteressante do Langdon, que já
nos deixa até cansados dele, faz-se justo reconhecer a evolução de Felicity
Jones, após aquela sua questionável indicação ao Oscar 2015 de Melhor Atriz,
por A Teoria de Tudo. Aqui já se nota presença firme e forte em cada troca de
trama em volta da personagem, que é uma mulher de grande personalidade.
Sendo assim, já que O Código da Vinci
impressiona somente pela análise do quadro A Última Ceia, de Leonardo Da Vinci
e do enigma por trás de Maria Madalena; e Anjos e Demônios (detestado por mim)
teve enaltecido o ato de transformar o Vaticano num centro mundial dos
horrores, Inferno se conclui mostrando ser uma obra de perda total, que diante de remota chance de se
fazer uma película, não é capaz nem de impactar com singelos fatos e sacramenta o
quão deve ser extinta a ânsia de levar as obras de Dan Brown para os cinemas,
já que agora ficou bem claro que o esquecimento, diante da inconsistência do
roteiro e da falta de noção do diretor Ron Howard, parece ser inevitável.
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