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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

TÔ RYCA


TÔ RYCA
DIREÇÃO: Pedro Antonio
ELENCO: Samantha Schmutz, Marcelo Adnet, Katiuscia Canoro, Fabiana Karla, Mauro Mendonça e Marília Pêra


Selminha (Samantha Schmutz) é uma mulher que leva uma dura vida trabalhando como frentista, onde costumeiramente acaba por entrar em atrito com o chefe e com a clientela. Surpreendentemente, ela descobre um tio, que está prestes a morrer e quer lhe entregar uma fortuna de R$ 300 milhões. Mas para pôr a mão nesse dinheiro, ela terá que realizar um desafio: gastar R$ 30 milhões em um mês, podendo apenas conferir um certo percentual para a doação e sem poder comprar nada para si.


É interessante o chamativo que as comédias da Globo Filmes têm para lotar as salas de cinema e garantir um belo lucro para a toda poderosa da comunicação nacional. Eu digo isso porque os filmes desse gênero, providos desse estúdio, são de uma qualidade no mínimo precária – o que poderia resultar em perdas gigantescas, quando na verdade vemos justamente o contrário. Um motivo para isso talvez seja apostar em um elenco com estrelas admiráveis, principalmente do núcleo cômico global. Porém, enquanto eles se esforçam, os filmes continuam a dar errado. Vide a genial turma do Porta dos Fundos, que ainda não disse a que veio no cinema.

Tô Ryca seria um filme predestinado a críticas negativas já na sua premissa, pois seu enredo nos traz aquela insuportável história do pobre que descobre um parente rico que vai lhe deixar uma gigantesca herança. Tramas desse tipo já foram vistas várias vezes no Brasil e nenhuma delas deu certo. Como é que ainda tem gente que investe nisso? Agora há de admitir que este filme acaba apresentando a menos pior abordagem do tema, o que diminui o que poderia ser o seu trágico resultado.

Estruturando-se na questão do desafio, o filme acaba sendo um jogo inclusive com o espectador, pois abre mão da hipocrisia ao estabelecer delírios de consumo em alguém que nunca viu tanto dinheiro na frente, mas que tem sempre os pés no chão, já que tudo aquilo ainda é um desafio, e assim, quem assiste, fica tão aflito sobre o que fazer com a fortuna quanto a Selminha (muito bem interpretada por Samantha Schmutz). Nós bolamos estratégias de gastos na mesma proporção que a protagonista, e acabamos por muitas vezes barrando nos empecilhos impostos pelo real dono dos milhões. Assim, se algumas partes do filme chegam a serem divertidas, o nosso envolvimento com ele também alcança esse patamar.

Ao politizar partidariamente a trama, Tô Ryca acaba acertando por ironizar as disputas baixas e a presença de candidatos fundamentalistas em eleições, defensores da moral e dos bons costumes, mas que na prática apresentam justamente o contrário. A hilária performance de Marcelo Adnet é uma mescla de grandes e atuais exemplos da política brasileira. Mas neste ato, não pode-se fugir do fato de que o filme investiu no trash e no exagerado. Que país é esse em que um mediador de debate tem poder para impugnar a candidatura de dois políticos por um simples tapa, de maneira rápida e arbitrária? A película, desde o início não parecia ter descompromisso com a realidade.

Mesmo com pontos positivos, onde aproveito para incluir a boa e surpreendente atuação de Katiuscia Canoro, que exibe um poderio dramático pouco visto em sua carreira, é fato que Tô Ryca exala irregularidades, por meio de grandes clichês, onde configura-se que seu roteirista Fil Braz (um dos responsáveis pelo Vai Que Cola e Minha Mãe é uma Peça) parece não ter capacidade alguma de desprender-se deles. Aqui cita-se como exemplo a rejeição da classe mais rica ao funk e o esnobe precipitado a duas mulheres humildes em uma loja de roupas das mais altas grifes – lembrando Uma Linda Mulher. Talvez o erro mais grave foi continuar investindo em afirmações de que o dinheiro não traz felicidade e que o poder muda as pessoas. Será que a maioria da população mundial realmente concorda com isso? No ato, é mais provável que o espectador que, a princípio, andava de mãos dadas com Selminha, no fim tenha lá suas discordâncias com ela. Assim, o que poderia ser enaltecido na obra, acaba indo por água abaixo – o que só nos leva a crer que o estúdio tenta conciliar qualidade com bilheteria, mas se perde quando não estabelece prioridades e consolida uma história com falta  de regularidade.

Mesmo com boas piadas, Tô Ryca acaba sendo uma esforçada obra, mas que não conseguiu ser exceção na péssima concepção de comédias feita pela Globo Filmes. Com um assunto manjado em mãos, seu esquecimento pode ser um presente do destino, pois vale ressaltar o atípico período em que o filme lançado. Agora se pode contar pontos negativos para diversos segmentos, pelo menos permitiu que o seu elenco não correspondesse às suas fraquezas.     



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