PEQUENO SEGREDO
DIREÇÃO: David Schurmann
ELENCO: Julia Lemmertz, Marcelo Anthony, Maria Flor, Fionnulla Flanagan, Erroll Shand e Mariana Goulart
Baseado em um livro de autoria
de Heloísa Schurmann, o filme retrata o destino cruzando a vida de duas
famílias, e um fatídico acontecimento resulta numa grande mudança em que a
principal dúvida é sobre manter ou não um segredo que as une.
Pequeno Segredo foi
selecionado pelo Ministério da Cultura para representar o Brasil no Oscar 2017, na categoria Melhor Filme Estrangeiro, tentando uma estatueta que nunca veio ou
pelo menos uma indicação que não acontece desde 1999, com Central do Brasil. Sua
escolha foi em meio a muita polêmica, onde questionava-se a idoneidade de
alguns membros do júri e até mesmo a elegibilidade do mesmo, devido a data de
seu lançamento. Na ocasião, o favoritismo era de Aquarius, de Kléber Mendonça Filho, que antes da escolha, junto a sua equipe, tornou-se muito crítico ao governo do Presidente Michel Temer. Sua não escolha teria sido uma retaliação e a palavra "golpe" também ecoou aqui.
Esquivando-me momentaneamente
do fato citado no último parágrafo, faz-se justo elucidar que o filme é dirigido
por David Schurmann (filho do casal protagonista, e que já dirigiu documentários sobre eles).
Substituindo agora seus familiares por atores, foi muito interessante como ele
abriu mão do egoísmo e praticamente se retirou de uma trama diretamente ligada
a ele, e a centrou em seus pais e sua irmã, sem ao menos cogitar a ideia de
inserir pontos desnecessários para estar alimentando a satisfação de outrem ou
de si próprio. Mas é uma pena que tal ponto positivo é pequeno diante de uma
obra falha.
Iniciando com belas e
impressionantes imagens do mar, Pequeno Segredo não deixa de ser uma tentação
para quem ama viajar (eu, por exemplo), mas é fato que não iria se estruturar
nisso. A produção não se exime de escancarar logo o quão triste é a história
que compõe o roteiro (escrito pelo diretor e sua mãe, em parceria com Victor
Atherino e Marcos Bernstein), gratificada com a linda trilha de Antonio Pinto.
Acontece que o filme não foge de muitos clichês, até mesmo por se tratar de algo
real, seja o bullying na escola, a sogra implicante, a reclusão de uma pessoa
doente ou o melodramático presente num casal em início de relacionamento, com
manjadas partes idas e vindas, precisando de uma tragédia para reacender uma paixão.
Talvez o erro crucial de
Pequeno Segredo seja esse substantivo presente em seu título, já que muitas
sinopses liberadas sobre o filme não se censura em revelar o que realmente está
por trás de tudo. E mesmo se não tivesse sido liberado, todos os fatos que
compõem a obra dão pistas seguras e incontestáveis sobre o que realmente está
por ser revelado no final. Fora o fato de que a família Schurmann
nunca passou incólume ao povo brasileiro, e sua história não é segredo (perdoem
o trocadilho) para muita gente. Seu objetivo seria melhor trabalhado, caso a
película não tivesse compromisso com o enigmático e acabasse simplesmente por
ser uma homenagem a Heloísa, Vilfredo e Kat.
Uma situação bastante
embaraçosa é o trágico trabalho de edição e maquiagem, que não souberam
estabelecer bem a passagem do tempo em mais de dez anos. Em muitas cenas, o
envolvimento de personagens, como Jeanne e Robert (Maria Flor e Erroll Shand,
respectivamente), parecem ser claramente contemporâneos ao da adolescência de Kat,
fora que a fisionomia de Julia Lemmertz, Marcelo Anthony e Fionnulla Flanagan
não mostram nenhum envelhecimento para um período de 13 anos – fato esse que
pode facilmente fazer o espectador se atrapalhar com o filme, fazendo
questionamentos, como: “O tempo passou?”, “Eles não conviveram?”, “Existem
laços de parentesco entre eles?”. É fato que chega um momento em que a ficha
cai e somos negativamente surpreendidos com situações que denotam falha na execução, e que deixam um pesar pelo filme não ter estabelecido com clareza a sua ordem cronológica.
Ainda por cima, os segredos e
os fatos anexos são liberados rápido demais, impedindo um desenvolvimento que
melhor prestigiaria seus personagens, citando que Robert poderia ter suas
derradeiras atitudes paternas sendo trabalhadas de maneira mais heroica; todo o
processo de adoção deveria ter sido mais desenvolvido; além do envolvimento de
Kat com o balé, que foi um verdadeiro fator de superação em sua vida, mas o
filme só exibe uma discriminação aqui e uma bela apresentação lá.
Relembrando o fato de Pequeno
Segredo ter sido escolhido como o representante brasileiro no Oscar 2017,
confesso que não se surpreenderei, caso o filme seja desclassificado pelo
seguinte detalhe: diversas falas em inglês, que tornam incoerente para tentar uma
indicação que prioriza uma língua estrangeira a dos americanos - o que só mostra o quão foi errada a sua escolha no lugar da obra-prima Aquarius. Assim, ficaria
mais manchada toda a polêmica em volta do filme. No mais, não há como não
elogiar o seu belo elenco e admitir que a obra é triste e emocionante, porém
sua falha estrutura desperdiça um verdadeiro triunfo cinematográfico.
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