CINQUENTA TONS MAIS ESCUROS
DIREÇÃO: James Foley
ELENCO: Jamie Dornan, Dakota Johnson, Marcia Gay Harden e Kim Basinger
Christian Grey tenta trazer
Anastasia de volta para a sua pra lá de diferente vida. O surpreendente é que
dessa vez o contrato é outro, e ele tenta mostrar tons mais humanos em sua
personalidade. Buscando reconstruir suas vidas, eles agora terão que lidar com
elementos do passado e do presente, que são uma séria ameaça ao casal.
Sem querer parecer radical
demais, mas poucos minutos são suficientes para que Cinquenta Tons Mais Escuros
me faça ter uma senhora crise de risos. Parece muito aqueles programas
humorísticos que cria personagem com um ciúme grandioso da mulher, mas tudo isso
em meio a uma veia cômica, e não é tido como um problema sério, como o filme
quer tratar. Se bem que aqui e acolá, a obra mostra-se uma proposital comédia
stand-up, onde há um sério jogo com o público, querendo e conseguindo arrancar
gargalhadas. Mas essa intenção do filme é mínima, comparado ao seu verdadeiro e
maior objetivo, que é (em vão) ser levado a sério. Após as merecidas críticas recebidas
pelo primeiro filme, a segunda versão cinematográfica da obra literária de E. L. James manteve
seus produtores, inclusive o conceituado Michael De Lucca, mas trouxe um novo
diretor: James Foley, daquele A Estranha Perfeita (lembram?); mesmo assim, um
novo resultado desastroso foi simplesmente inevitável.
Os primeiros atos de
Cinquenta Tons Mais Escuros tentam ensaiar uma Anastasia mais dona de si, com
um meritocrático emprego em uma editora e impondo condições para manter o relacionamento
com Christian Grey. Só que o decorrer da história a transforma em uma mulher
contraditória, pois suas próprias iniciativas acabam incitando a “selvageria”
por parte do cônjuge, criando uma fascinação dela por ideais sadomasoquistas e pelo clássico quarto vermelho, que a transformaram em uma cúmplice da louca
obsessão do empresário mega-bilionário, ou seja, sua notável condição de vítima
é cruelmente desmontada pela obra, que mesmo almejando desmistificar
preconceitos, acaba por valorizando-os.
E se a primeira película nos
assusta com Christian Grey, esta segunda o constrói de uma maneira bastante
artificial, pois o juntar dos dois filmes está bem longe do suficiente para
exibir sentimentalismo no jovem, já que cada um de seus atos, por mais
benevolente (ou menos malevolente) que sejam, exibem um homem que vive para
dominar uma mulher, tendo nela uma figura que mais parece um objeto. A frieza
dele, aliada a fraca atuação de Jamie Dornan, é tão forte ao ponto de escancarar uma enorme indiferença ao sobreviver de um grave acidente de helicóptero, onde
incrivelmente não houve sequer a necessidade dele ser hospitalizado. Além
disso, Cinquenta Tons Mais Escuros nos deixa os seguintes questionamentos: Que
falta de norte foi essa que o Grey sofreu ao se distanciar da Anastasia? Como
comprovar isso? Quais elementos a garota (ainda tragicamente vivida por Dakota
Johnson) exibe a ponto de ensinar o ricaço sobre o que é amor? Ele sabe o que é amor? O filme não
transparece respostas, e toca sua narrativa na base do “é isso e pronto, e não
somos obrigados a especificar nada”. E outra coisa: Um adolescente ser abusado
sexualmente (conforme a lei) por uma mulher mais velha, jamais seria um trauma
para Christian Grey. Desculpem a franqueza neste último ponto.
A obra ainda busca elaborar
um teor de suspense em cima de três personagens: Leila é uma ex-submissa de
Grey, que com tons psicóticos tenta ser uma ameaça a vida do casal, tratada e
exibida como um fantasma vivo que veio do além, ao ponto de importuná-los e consegue desesperá-los com o simples
ato de jogar tinta num dos carros do par; Jack é o chefe de Anastasia, que,
como se não bastasse o protagonista, tem os mesmo perfil e instinto de
Christian, enxergando nele um verdadeiro adversário, que pode (e consegue)
arruinar sua vida e carreira; Elena (vivida pela Barbie humana Kim Basinger) é
a mentora sexual de Grey, que atualmente sócia do magnata, não aprova seu
“romance”, e com tons vilanescos tenta convencê-lo de desistir da jovem. A real
é que de suspense, isso tem só a tentativa. São personagens que dão as caras no
início de Cinquenta Tons Mais Escuros, desaparecem, e retornam quando a
presença deles na película já não fazem mais sentido, e se caso não voltasse,
não teria a mínima interferência no roteiro (apesar da bizarrices); e o desfecho da trama tenta dar uma ideia de que
os três terão um papel fundamental no próximo filme da franquia, mas agora me
respondam: Como podemos esperar algo de relevante por parte deles, se nem o
Christian Grey e a Anastasia parecem ser dois seres concebidos artisticamente por
uma mente que tem noção das coisas?! Complicado!
Referindo-se a cenas de
sexo, este filme aqui avaliado exibiu bem menos cenas picantes, mas faz-se
justo admitir que Jamie Dornan e Dakota Johnson tiraram mais o pé do freio. Se
bobear, esta última até permitiu que a mamãe Melanie Griffith observasse tudo.
No mais, a franquia Cinquenta Tons de Cinza, mesmo tentando fugir, continua
sendo machista, incoerente, e nestes tons mais escuros, bem mais artificial, ao
ponto de se perder na concepção de um contexto que não gira somente em torno de
Christian e Anne. Se for capaz de entregar filmes trágicos até o fim, fica o
desejo que pelo menos o seu departamento musical seja condecorado, pois as
músicas compostas para o mesmo e escutadas durante a projeção, dão para o gasto,
ou pelo menos um percentual dele.
1 comentários:
A série "Cinquenta Tons..." parece mesmo não ter conserto, né? E a trilha é realmente uma delícia, mas completamente alheia ao filme, sem qualquer função narrativa... Realmente um produto para ser apreciado à parte!
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