O Oscar 2017 acontecia e eu ia
me animando com a cerimônia. Jamais imaginaria que iria começar logo com o
Justin Timberlake cantando Can’t Stop The Feeling - a mais animada entre as canções concorrentes,
e isso foi um fato que se comprovou na prática, pois ele colocou todo mundo pra
dançar. Eis um acerto da produção, que sabe que um início impactante contribui
para uma festa bem sucedida.
Aqui ficam meus aplausos para
o anfitrião Jimmy Kimmel, em uma grande eficiência e irreverência. Sem fugir dos
embates entre Hollywood e o Presidente dos EUA Donald Trump, ele ironizou a declaração
do magnata que apontava Meryl Streep como uma atriz superestimada, conclamando
a plateia a aplaudir de pé a estrela que estava presente. Ainda sobre o chefão
americano, Kimmel chegou a enviar tweets para ele durante o evento, que por um
momento pensei que pudesse bater o recorde dos compartilhamentos da selfie da
Ellen DeGeneres. O anfitrião ainda foi dinâmico ao jogar doces em paraquedas
para a plateia, e de surpresa colocar turistas dentro do Dolby Theatre. Eu
desmaiava se entrasse ali e desse logo de cara com Nicole Kidman ou ganhasse um
óculos da Jennifer Aniston. Como não poderia deixar passar, ele e Matt Damon
não fugiram de piadas envolvendo a cômica inimizade entre eles. Outra boa
sacada foi escalar atores para apresentarem categorias com seus ídolos, tudo isso
precedido por depoimentos emocionantes. Charlize Theron homenageou Shirley MacLaine, Seth
Rogen reverenciou Michael J. Foxx, e Javier Bardem idolatrou a supracitada
Meryl Streep.
Se de uns anos pra cá, o Oscar
tem sido menos previsível, embora nem tanto chocante (deixemos um certo detalhe
pro final deste texto), as categorias técnicas têm sido responsáveis por nos
surpreender. La La Land? Jackie? Não, o melhor figurino foi Animais Fantásticos
e Onde Habitam – quarta vitória da estilista Colleen Atwood e primeira de um
filme da linha Harry Potter. E sabem o péssimo Esquadrão Suicida? Carregará o
selo de vencedor do Oscar, pois foi eleito a melhor maquiagem. A Chegada, que
parecia que sairia de mãos abanando, ficou com Edição de Som. Até o Último
Homem, filme que marca a volta de Mel Gibson teve saldo positivo: Melhor
Montagem e Melhor Efeitos Sonoros – destaque a este último por conta de seu
sonoplasta Kevin O’Connel, que finalmente levou o seu Oscar, após 20 indicações
e 20 derrotas.
Em outros prêmios técnicos,
não houve nada chocante: Mogli – O Menino Lobo teve os melhores Efeitos
Visuais, La La Land (nesse segmento) ficou com Design de Produção, Fotografia,
Trilha Sonora e Canção (“City of Stars”). Zootopia – Essa Cidade é o Bicho foi
a melhor Animação e mantém o monopólio Disney/Pixar; o emocionante Piper ficou
com Animação em Curta Metragem. Os Capacetes Brancos e Sing também triunfaram
entre os curtas (Documentário e Ficção). O melhor Documentário em longa
metragem foi O.J. Made in America, que com 7 horas e 47 minutos, tornou-se o
mais longo filme oscarizado da história. Outras vitórias esperadas vieram nos
roteiros: Manchester à Beira-Mar foi o melhor original e Moonlight – Sob a Luz
do Luar foi o adaptado.
Um dos prêmios mais esperados
era o de Filme Estrangeiro. Houve protestos contra as medidas anti-imigração de
Donald Trump. Um vídeo com personalidades de outros países falando sobre cinema
foi exibido. Nele, falaram os brasileiros Lázaro Ramos e Seu Jorge. A vitória
na categoria ficou o iraniano O Apartamento. O diretor do filme Ashgar Farhadi
não estava presente, pois o Presidente dos EUA negou visto a todas as pessoas
do Irã. O cineasta mandou um agradecimento por escrito, em que dividia a vitória
com todos os países afetados por essas sanções de Trump.
Partindo para as categorias principais,
não houve surpresa entre os coadjuvantes: Mahershala Ali venceu por Moonlight –
Sob a Luz do Luar, e Viola Davis faturou por Um Limite entre Nós. Após dois
anos com a polêmica #OscarSoWhite, dois afrodescendentes saem vitoriosos, numa
edição do prêmio em que ficou belamente nítida a diversidade. Damien Chazelle,
aos 32 anos, se tornou o mais jovem vencedor na categoria Diretor, por La La
Land – Cantando Estações. Por este mesmo filme, Emma Stone foi a Melhor Atriz,
ratificando a postura da Academia de sempre premiar atrizes jovens. No grande
duelo da noite, Casey Affleck, por Manchester à Beira Mar, derrotou o também
forte Denzel Washington, de Um Limite entre Nós – este último ficou claramente desapontado.
A vitória de Casey se mistura com polêmicas denúncias de assédio
sexual por parte dele. Brie Larson, apresentadora da categoria, não escondeu o desconforto
em entregar o prêmio a ele. Ela sequer o aplaudiu.
O Oscar 2017 caminhou para a
sua categoria principal com uma homenagem aos 50 anos de “Bonnie & Clyde”.
No ato, os protagonistas Warren Betty e Faye Dunaway foram escalados para apresentarem
Melhor Filme. Tudo parecia ir tranquilo, até a hora de abrir o envelope. Warren
abriu, estranhou o que estava ali escrito e demorou a falar algo. Faye achou
que ele estava querendo ser engraçado, o apressou, deu uma olhadinha no cartão
e anunciou vitória de La La Land – Cantando Estações. Festa da equipe do
musical, eles sobem ao palco e discursam por 2:20 minutos. Organizadores do
Oscar entram, falam algo nos ouvidos de membros da equipe do filme,
até que o mundo se depara com a maior gafe em 89 anos de prêmio: Foi anunciado
o vencedor errado. Moonlight – Sob a luz do Luar havia vencido. O próprio
produtor de La La Land anunciou o resultado real, exibindo o cartão. O choque
tomou conta do Dolby Theatre, inclusive com a troca da equipe vencedora, feita
com muita classe e civilidade por parte de ambas. Mas o que terá acontecido?
A PriceWaterHouse cuida da
apuração do Oscar desde a primeira edição do prêmio. Lá se vão 89 anos e nenhum
escândalo envolvendo seu nome. De todos que contam os votos, apenas dois têm
acesso ao resultado final e os leva à cerimônia em dois envelopes para cada
categoria. Um fica com o apresentador, e o outro fica com eles para checar se
foi anunciado o correto. A penúltima categoria a ser entregue na noite foi
Melhor Atriz, e acabou que foi entregue o envelope reserva dessa categoria (como
comprovado pelas imagens) e não o original de Melhor Filme. O cartão que Warren
Betty tinha em mãos dizia: Emma Stone, for La La Land. Sem querer culpa-lo, mas
acho que ele deveria ter apontado que havia um erro, antes de Faye anunciar a
obra errada. Hoje, a empresa de auditoria, assumiu a culpa e prometeu
investigação do caso, que culminou com um constrangimento forte e histórico
para La La Land e uma celebração tão pequena por parte de Moonlight – Sob a Luz
do Luar. Se não houvesse o erro, o filme estaria sendo mais celebrado com o primeiro
de temática LGBT a vencer o Oscar na categoria principal.
Somado a essa situação, vimos La
La Land atingir o recorde de 14 indicações, vencer todos os prêmios até aqui, mas
não ser eleito o Melhor Filme no Oscar. Isso é no mínimo esquisito. A maior
premiação do cinema tem um regulamento diferente para eleger a melhor produção
do ano, onde ao invés do membro votar apenas no seu favorito (como em todas as
demais categorias), ele faz um ranking com todos os indicados. Ganha quem tiver
a melhor média. Não quero desmerecer o lindo drama Moonlight, nem a democracia
e a autenticidade dos votantes, mas duvido se esse filme foi o mais citado em
primeiro lugar. La La Land deve ter caído perante a divisões de opiniões que o
gênero causa. Diante de uma temporada de prêmios onde ganhou tudo, o
Oscar lhe causou inúmeros constrangimentos difíceis de serem explicados, lamentado até por quem não torcia pelo filme. No
mínimo rever esse regulamento da premiação é uma atitude para evitar mais
complicações adiante.
Voltando à gafe, ela ainda vai
dar muito o que falar, e esperemos 2018 para ver como ela será tratada para
trabalhar a superação da mesma. A única certeza é que num futuro próximo ou
distante, o Oscar vai é se orgulhar da situação, assim como foi ter visto um
homem pelado correndo no palco, uma falsa índia representando um poderoso
chefão ou uma atriz dizendo que não era pra terem dado o prêmio para ela.
Plateia chocada com o erro no anúncio do vencedor de Melhor Filme
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