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domingo, 23 de abril de 2017

A CABANA


A CABANA
DIREÇÃO: Stuart Hazeldine
ELENCO: Octavia Spencer, Sam Worthington, Radha Mitchell, Ryan Robbins, Graham Grenne, Tim McGraw, Emily Holmes, Megan Charpentier e Alice Braga


Mackenzie é um pai de três filhos, que leva suas crianças para acamparem nas férias. A viagem, que tinha tudo para ser especial, torna-se um verdadeiro pesadelo com o sequestro de sua caçula e os indícios que a mesma tenha sido brutalmente assassinada. O tempo passa e ele recebe um misterioso chamado para passar um período em uma cabana, onde lá ele passará por uma renovação espiritual.


Escrito por William P. Young, A Cabana é um livro de cunho religioso, lançado em 2009 e que em pouquíssimo tempo tornou-se um best seller mundial. Evidente que transformá-lo em uma obra cinematográfica seria inevitável. Talvez a surpresa tenha sido a demora de sete anos para que esse projeto fosse levado às telonas – o que é muito para os padrões atuais. Estruturado de maneira contida em sua equipe, o filme traz como diretor o desconhecido inglês Stuart Hazeldine, e seu elenco é liderado por Sam Worthington (protagonista de Avatar), a vencedora do Oscar Octavia Spencer, a brasileira Alice Braga e o astro da música country Tim McGraw. O ato de não terem apostado tanto em nomes mais que celebrados, só denota o quão A Cabana é um filme “pé no freio” desde a sua pré-produção, que parece que já previa suas irregularidades.

Sem se despir de sua total postura de autoajuda, que agora é direcionado a espectadores, o filme tem seu início com um flashback do protagonista, focalizando a maneira como ele era maltratado pelo pai durante a sua infância. Se em um ponto, a obra tenta introduzir a fase adulta do Mackenzie, como um homem que não teve o seu caráter prejudicado pela estrutura familiar que tinha, ao mesmo tempo o exibe como um bom marido e um pai dedicado. Se assim, ele pode atestar que sua fase infantil serviu de exemplo para como lidar no futuro, as entrelinhas incutidas no roteiro escrito por John Fusco, Andrew Lanham e Destin Daniel Cretton, se chocam no perfil espiritual da obra, que acaba por não deixar claro se os valores familiares se sobressaem a liberdade individual de alguém amar o próximo. Afinal, eles são ou não importantes e fundamentais? Se o que importa é a família unida, então porque investir numa trama introduzida com um sujeito violento?  

No que é bastante válido para uma produção cinematográfica baseada em um livro valorizar o audiovisual e ver aquilo que é importante para uma concepção, conforme os preceitos da sétima arte, A Cabana parece querer estar 100% ligada a uma obra literária. E pra piorar a situação, tal afirmativa pode ser justificada no momento central do filme, que é o sequestro da filha caçula de Mackenzie. Tudo bem que na cena, um fato isolado e perigoso tirou a atenção do pai, mas analisando o ato, fica o questionamento se numa área aparentemente pequena à beira de um lago, com diversas pessoas acampando bem próximas umas das outras, como que ninguém notou que a garota estava sendo sequestrada, numa atitude inclusive pouco silenciosa, como a própria película exibiu?! Diante disso, A Cabana atingiu um lamentável nível de artificialidade, como se quisessem executar aquilo que o livro dita, sem se preocupar com as esquisitices nas quais poderiam estar se rendendo.

Posterior a isso, vemos a tão esperada volta de Mackenzie à cabana, no qual o filme insere-se no patamar que os fãs estavam esperando. Curiosamente o elo entre ele e os personagens divinos, mostra atores de diversas raças e nacionalidades (negra, indígena, árabe, indiana, latina), mas obviamente que diante de tantas opções, o protagonismo é do americano branco. A partir daí, começa o didatismo cristão, ecoando mensagens de paz, perdão, recomeço e de fé em Deus e em si próprio. E assim, na mais pura tranquilidade de sua produção, o filme segue até o seu desfecho, numa trajetória que conta com uma até bela trilha sonora de Aaron Zigman.

Diante disso, A Cabana acaba sendo resumidamente uma obra que se preocupa bastante com sua mensagem, sem perceber que a maneira com que tudo fora trabalhado, era uma afronta à técnica cinematográfica. Se nessa transposição de livro para filme, a trama ainda manteve uma grande leva de fãs, é porque grande parte deles talvez não consiga separar cinema de religião.



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