A CABANA
DIREÇÃO: Stuart Hazeldine
ELENCO: Octavia Spencer, Sam Worthington, Radha Mitchell, Ryan Robbins, Graham Grenne, Tim McGraw, Emily Holmes, Megan Charpentier e Alice Braga
Mackenzie é um pai de três
filhos, que leva suas crianças para acamparem nas férias. A viagem, que tinha
tudo para ser especial, torna-se um verdadeiro pesadelo com o sequestro de sua caçula e os indícios que a mesma tenha sido brutalmente assassinada. O
tempo passa e ele recebe um misterioso chamado para passar um período em uma
cabana, onde lá ele passará por uma renovação espiritual.
Escrito por William P. Young, A
Cabana é um livro de cunho religioso, lançado em 2009 e que em pouquíssimo
tempo tornou-se um best seller mundial. Evidente que transformá-lo em uma obra
cinematográfica seria inevitável. Talvez a surpresa tenha sido a demora de sete
anos para que esse projeto fosse levado às telonas – o que é muito para os
padrões atuais. Estruturado de maneira contida em sua equipe, o filme traz como diretor o desconhecido
inglês Stuart Hazeldine, e seu elenco é liderado por Sam Worthington
(protagonista de Avatar), a vencedora do Oscar Octavia Spencer, a brasileira
Alice Braga e o astro da música country Tim McGraw. O ato de não terem apostado
tanto em nomes mais que celebrados, só denota o quão A Cabana é um filme “pé no
freio” desde a sua pré-produção, que parece que já previa suas irregularidades.
Sem se despir de sua total postura de autoajuda, que agora é direcionado a espectadores, o filme tem seu
início com um flashback do protagonista, focalizando a maneira como ele era maltratado
pelo pai durante a sua infância. Se em um ponto, a obra tenta introduzir a fase
adulta do Mackenzie, como um homem que não teve o seu caráter prejudicado pela
estrutura familiar que tinha, ao mesmo tempo o exibe como um bom marido e um
pai dedicado. Se assim, ele pode atestar que sua fase infantil serviu de
exemplo para como lidar no futuro, as entrelinhas incutidas no roteiro escrito
por John Fusco, Andrew Lanham e Destin Daniel Cretton, se chocam no perfil
espiritual da obra, que acaba por não deixar claro se os valores familiares se
sobressaem a liberdade individual de alguém amar o próximo. Afinal, eles são ou não importantes e fundamentais? Se o que importa é a família unida, então porque investir numa trama introduzida com um sujeito violento?
No que é bastante válido para uma
produção cinematográfica baseada em um livro valorizar o audiovisual e ver
aquilo que é importante para uma concepção, conforme os preceitos da sétima
arte, A Cabana parece querer estar 100% ligada a uma obra literária. E pra
piorar a situação, tal afirmativa pode ser justificada no momento central do
filme, que é o sequestro da filha caçula de Mackenzie. Tudo bem que na cena, um fato
isolado e perigoso tirou a atenção do pai, mas analisando o ato, fica o
questionamento se numa área aparentemente pequena à beira de um lago, com
diversas pessoas acampando bem próximas umas das outras, como que ninguém
notou que a garota estava sendo sequestrada, numa atitude inclusive pouco
silenciosa, como a própria película exibiu?! Diante disso, A Cabana atingiu um
lamentável nível de artificialidade, como se quisessem executar aquilo que o
livro dita, sem se preocupar com as esquisitices nas quais
poderiam estar se rendendo.
Posterior a isso, vemos a tão
esperada volta de Mackenzie à cabana, no qual o filme insere-se no patamar que
os fãs estavam esperando. Curiosamente o elo entre ele e os personagens
divinos, mostra atores de diversas raças e nacionalidades (negra, indígena, árabe,
indiana, latina), mas obviamente que diante de tantas opções, o protagonismo é
do americano branco. A partir daí, começa o didatismo cristão, ecoando
mensagens de paz, perdão, recomeço e de fé em Deus e em si próprio. E assim, na mais pura tranquilidade de sua produção, o
filme segue até o seu desfecho, numa trajetória que conta com uma até bela trilha sonora de Aaron Zigman.
Diante disso, A Cabana acaba sendo resumidamente uma obra que se preocupa bastante com sua mensagem, sem
perceber que a maneira com que tudo fora trabalhado, era uma afronta à técnica
cinematográfica. Se nessa transposição de livro para filme, a trama ainda
manteve uma grande leva de fãs, é porque grande parte deles talvez não consiga
separar cinema de religião.
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