O ESTRANHO QUE NÓS AMAMOS
DIREÇÃO: Sofia Coppola
ELENCO: Nicole Kidman, Kirsten Dunst, Elle Fanning e Colin Farrel
Em meio à guerra, um soldado
está ferido no meio de um bosque e acaba por ser encontrado por uma garota que
reside em uma casa só com mulheres, que são doutrinadas de maneira moralista.
Cientes que deviam acolher o homem, elas passam a cultivar sentimentos bons e ruins
para/com ele, despertando sensações que jamais pensaram que
poderia existir.
Baseado no livro de Thomas
Cullinan, lançado em 1966, e que resultou em um filme produzido cinco anos
depois, protagonizado por Clint Eastwood, esta nova versão de O Estranho que nós Amamos é o ápice
da tentativa gananciosa da diretora Sofia Coppola (que também entregou Maria
Antonieta, As Virgens Suicidas e ganhou o Oscar de Roteiro por Encontros e
Desencontros) em acreditar que já pode elevar o grau de dificuldade de suas
películas, embarcando em obras mais delicadas, diante de uma carreira que
priorizou comédias e dramas açucarados. Sua firmeza ao comandar a obra é
visível e admirável, digna de prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes,
mas não é suficiente para pôr fim a instabilidade de sua filmografia.
Buscando fazer um filme
detalhista em todos segmentos, Sofia absorve a capacidade que a sétima arte tem
de criar um clima sombrio de guerra, e o prólogo de O Estranho que nós Amamos
expõe uma situação em que pessoas devem manter seus hábitos normais, mesmo com
um som de fundo que nos remete aos momentos mais sangrentos de uma batalha.
Abrindo mão de uma trilha sonora, denotando toda a frieza e reclusão da trama,
o filme tem a perspicácia de não se perder no desenvolvimento dos personagens
femininos, visto que elas, mesmo ferindo seus princípios ao adotar um homem
ferido, não descartavam a maneira dura de ser, para não deixar com que ele
pudesse vir a tomar conta da situação desde o princípio, já que vale ressaltar
que em séculos passados, as mulheres detinham bem menos poder que hoje, e
governar um lar era algo simplesmente inconcebível.
O desenrolar da história,
mesmo buscando uma união entre as protagonistas, conduz o espectador para um
ambiente aparentemente religioso, mas que as pessoas ali incutidas se deixam
levar pelos desejos, pelas paixões e pelas traições. Ciente da forte trama que
tinha em mãos, Sofia Coppola concede mais poder para o antagonismo e cria para
o espectador verdadeiros enigmas em cima de fatos, que por sinal são bem
detalhados, mas que não eliminam a tensão, visto que as coisas tendem a piorar para
as mulheres, mas a diretora sabe que apesar dos pesares recentes, as mesmas são
unidas, por isso prepara algo impactante para o desfecho da trama.
O elenco da obra traz figuras
carimbadas dos filmes da filha de Francis Ford Coppola, como Kirsten Dunst e
Elle Fanning, que transbordam maturidade em suas performances, dotadas de
trejeitos que assumem o caráter de suas personagens, que veem tronar-se mais
fortes as personalidades que elas tinham dentro de si. Grande nome do filme,
Nicole Kidman, mesmo com todas as suas polêmicas em torno do botox, consegue
usar e abusar de expressões faciais que escancaravam a rigidez de uma pessoa
que tinha uma grande responsabilidade em mãos, e mesmo quando via
situações com tendências negativas, não perdia a compostura e mostrava a dureza
e frieza que uma líder de um grupo como aquele precisava ter.
Forte e delicado ao mesmo
tempo, O Estranho que nós Amamos, mesmo tendo alguns ingredientes para tal, não
consegue ser um filme aborrecido, mas faz-se justo voltar a instabilidade da
carreira de Sofia Coppola, para justifica-la alertando para a baixa
memorabilidade deste seu último filme, que mesmo tendo um saldo positivo, não
consegue (analisando o ano de 2017) mostrar-se superior a obras comerciais,
como Mulher Maravilha e até mesmo It – A Coisa. Logo, mesmo com suas
qualidades, no final da história, acaba por ser só mais um filme.
0 comentários:
Postar um comentário